Os articuladores argumentativos coordenativos são palavras ou expressões que ligam orações ou ideias dentro de um texto, mantendo autonomia sintática entre elas, mas garantindo a coesão e o encadeamento lógico. Essas palavras estabelecem relações como adição, oposição, alternância, conclusão e explicação.
De modo geral, esses articuladores são conjunções coordenativas, mas também podem ser advérbios ou locuções que desempenham uma função semelhante, atuando como conectores do raciocínio. Em textos argumentativos, seu uso é essencial para organizar o pensamento, guiar o leitor e tornar a argumentação mais clara, persuasiva e coerente.
Como os articuladores afetam o sentido do texto?
Observemos o seguinte exemplo:
“A inflação está alta. Os preços estão subindo.”
As conjunções servem para ligar essas duas orações, que trazem ideias relacionadas (inflação e preços), criando um encadeamento lógico, coerente e coeso. No entanto, a escolha do articulador pode mudar o tom, o foco e até a força da argumentação, influenciando a forma como o leitor compreende o conteúdo.
Veja como a mesma dupla de orações pode gerar efeitos diferentes:
1. “A inflação está alta e os preços estão subindo.”
Aqui temos uma conjunção aditiva (e) unindo as duas orações, transmitindo a ideia de que duas coisas estão acontecendo simultaneamente. Em uma reportagem ou notícia de telejornal, esse articulador indicaria ao leitor ou telespectador uma simples soma de informações, apresentadas de forma neutra e direta.
2. “Não apenas a inflação está alta, como também os preços estão subindo.”
Neste caso, as mesmas ideias estão ligadas por outra conjunção aditiva, mas mais elaborada: “não apenas… como também”. Embora a função continue sendo aditiva, a estrutura do articulador reforça a argumentação, sugerindo que o fato é mais grave ou mais impactante. Há uma ênfase maior, um tom de alerta ou de aprofundamento na análise.
Esses exemplos mostram como a escolha do articulador não é apenas uma questão gramatical, mas também estratégica e argumentativa. Em textos opinativos, jornalísticos ou dissertativos, usar o articulador certo ajuda o autor a conduzir o raciocínio do leitor de maneira mais eficaz.
Como a escolha do articulador modifica o sentido da argumentação?
Vamos observar mais alguns exemplos que usam articuladores diferentes para ligar as mesmas ideias (inflação e preços), mas com efeitos distintos sobre o significado do texto:
3. “A inflação está alta porque os preços estão subindo.”
Aqui temos uma relação de causa e efeito. O articulador “porque” indica que a alta dos preços é a causa da inflação elevada. O foco está na explicação do motivo da inflação.
4. “A inflação está alta, por isso os preços estão subindo.”
Neste caso, o articulador “por isso“ também estabelece uma relação de causa e consequência, mas a direção do raciocínio é diferente da anterior: agora, a inflação é a causa da subida dos preços. É uma estrutura típica de raciocínio conclusivo (articulador coordenativo conclusivo).
5. “Os preços estão subindo porque a inflação está alta.”
Muito semelhante ao exemplo 4, mas com uma inversão da ordem das orações. Ainda temos uma relação causal, mas com o foco inicial nos efeitos. A oração principal (os preços estão subindo) é seguida da explicação.
6. “Os preços estão subindo, por isso a inflação está alta.”
Neste caso, o articulador “por isso“ assume novamente um papel conclusivo, sugerindo que os preços em alta provocam a inflação. Embora na prática a relação possa ser mais complexa, o efeito argumentativo aqui é claro: causa e consequência com foco na conclusão.
7. “A inflação está alta quando os preços estão subindo.”
Este exemplo introduz uma relação de tempo, com o articulador “quando“. Não há necessariamente uma relação de causa e efeito, mas sim a simultaneidade entre os dois fatos. É mais descritivo do que argumentativo, o que muda completamente a força do enunciado.
Esses exemplos mostram que o articulador não apenas liga orações, mas determina como o leitor interpretará essa ligação: como soma, contraste, explicação, consequência ou simultaneidade. Por isso, conhecer os articuladores e seus efeitos é essencial para escrever bem e argumentar com clareza.
O mesmo articulador pode trazer sentidos diferentes?
Vamos observar outro exemplo:
“Ela estudou muito. Não conseguiu passar no concurso.”
Temos aqui duas informações: alguém se preparou bastante para um concurso, e mesmo assim não foi aprovada. Pela lógica da expectativa, esperava-se que o esforço resultasse em aprovação. No entanto, o resultado foi o oposto. Ou seja, há uma ideia de contraste entre as duas orações. Para dar coesão e coerência ao texto, podemos unir essas frases assim:
1. “Ela estudou muito, mas não conseguiu passar no concurso.”
A conjunção “mas” é adversativa, e está de acordo com a relação de oposição entre expectativa e resultado. Essa estrutura é clara e direta, muito comum em textos argumentativos e jornalísticos.
2. “Ela estudou muito e não conseguiu passar no concurso.”
Essa construção é bastante usada na linguagem oral, apesar de usar a conjunção “e”, que originalmente indica adição. Neste caso, ela adquire uma carga de oposição, embora de forma implícita. O efeito argumentativo aqui é mais sutil e depende do contexto e da entonação.
3. “Ela estudou muito e, ainda assim, não conseguiu passar no concurso.”
Essa estrutura reforça a ideia de adversidade com mais clareza. O uso da expressão “ainda assim” funciona como um articulador argumentativo que acentua o contraste entre esforço e resultado. É uma forma mais elaborada e enfática de expressar a mesma oposição.
4. “Ela conseguiu passar no concurso com uma boa nota, mas poderia ter sido melhor.”
Neste caso, a conjunção “mas” aparece novamente, porém o efeito é diferente. Em vez de oposição direta, ela introduz uma restrição ou nuance: o desempenho foi bom, mas não excelente. Isso mostra que o efeito argumentativo da conjunção depende do contexto e da intenção do autor.
Podemos concluir, portanto, que um mesmo articulador pode assumir funções diferentes, e articuladores distintos podem expressar a mesma relação lógica com diferentes intensidades. Conhecer esses usos ajuda a escrever com mais precisão, clareza e intencionalidade.